Naiara Parolin Bastos31 de ago. de 20202 min para lerLady Lazarus - Sylvia PlathLady Lazarus - Sylvia Plath(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)Tentei outra vez. Um ano em cada dez Eu dou um jeito — Um tipo de milagre ambulante, minha pele Brilha feito abajur nazista, Meu pé direitoPeso de papel, Meu rosto inexpressivo, fino Linho judeu.Dispa o pano Oh, meu inimigo. Eu te aterrorizo? —O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda? O hálito amargo Desaparece num dia.Em muito breve a carne Que a caverna carcomeu vai estar Em casa, em mim.E eu uma mulher sempre sorrindo. Tenho apenas trinta anos. E como o gato, nove vidas para morrer.Esta é a Número Três. Que besteira Aniquilar-se a cada década.Um milhão de filamentos. A multidão, comendo amendoim, Se aglomera para verDesenfaixarem minhas mãos e pés — O grande striptease. Senhoras e senhores,Eis minhas mãos Meus joelhos. Posso ser só pele e osso,No entanto sou a mesma, idêntica mulher. Tinha dez anos na primeira vez. Foi acidente.Na segunda quis Ir até o fim e nunca mais voltar. Oscilei, fechadaComo uma concha do mar. Tiveram que chamar e chamar E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.Morrer É uma arte, como tudo o mais. Nisso sou excepcional.Desse jeito faço parecer infernal. Desse jeito faço parecer real. Vão dizer que tenho vocação.É muito fácil fazer isso numa cela. É muito fácil fazer isso e ficar nela. É o teatralRegresso em plena luz do sol Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito Aflito e brutal:“Milagre!” Que me deixa mal. Há um preçoPara olhar minhas cicatrizes, há um preço Para ouvir meu coração — Ele bate, afinal.E há um preço, um preço muito alto Para cada palavra ou cada toque Ou mancha de sangueOu um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas. E aí, Herr Doktor. E aí, Herr Inimigo.Sou sua obra-prima, Sou seu tesouro, O bebê de ouro puroQue se funde num grito. Me viro e carbonizo. Não pense que subestimo sua grande preocupação.Cinza, cinza — Você fuça e atiça. Carne, osso, não há mais nada ali —Barra de sabão, Anel de casamento, Obturação de ouro.Herr Deus, Herr Lúcifer Cuidado. Cuidado.Saída das cinzas Me levanto com meu cabelo ruivo E devoro homens como ar.
Lady Lazarus - Sylvia Plath(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)Tentei outra vez. Um ano em cada dez Eu dou um jeito — Um tipo de milagre ambulante, minha pele Brilha feito abajur nazista, Meu pé direitoPeso de papel, Meu rosto inexpressivo, fino Linho judeu.Dispa o pano Oh, meu inimigo. Eu te aterrorizo? —O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda? O hálito amargo Desaparece num dia.Em muito breve a carne Que a caverna carcomeu vai estar Em casa, em mim.E eu uma mulher sempre sorrindo. Tenho apenas trinta anos. E como o gato, nove vidas para morrer.Esta é a Número Três. Que besteira Aniquilar-se a cada década.Um milhão de filamentos. A multidão, comendo amendoim, Se aglomera para verDesenfaixarem minhas mãos e pés — O grande striptease. Senhoras e senhores,Eis minhas mãos Meus joelhos. Posso ser só pele e osso,No entanto sou a mesma, idêntica mulher. Tinha dez anos na primeira vez. Foi acidente.Na segunda quis Ir até o fim e nunca mais voltar. Oscilei, fechadaComo uma concha do mar. Tiveram que chamar e chamar E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.Morrer É uma arte, como tudo o mais. Nisso sou excepcional.Desse jeito faço parecer infernal. Desse jeito faço parecer real. Vão dizer que tenho vocação.É muito fácil fazer isso numa cela. É muito fácil fazer isso e ficar nela. É o teatralRegresso em plena luz do sol Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito Aflito e brutal:“Milagre!” Que me deixa mal. Há um preçoPara olhar minhas cicatrizes, há um preço Para ouvir meu coração — Ele bate, afinal.E há um preço, um preço muito alto Para cada palavra ou cada toque Ou mancha de sangueOu um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas. E aí, Herr Doktor. E aí, Herr Inimigo.Sou sua obra-prima, Sou seu tesouro, O bebê de ouro puroQue se funde num grito. Me viro e carbonizo. Não pense que subestimo sua grande preocupação.Cinza, cinza — Você fuça e atiça. Carne, osso, não há mais nada ali —Barra de sabão, Anel de casamento, Obturação de ouro.Herr Deus, Herr Lúcifer Cuidado. Cuidado.Saída das cinzas Me levanto com meu cabelo ruivo E devoro homens como ar.
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