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  • Ádia Anselmi

Algo que siempre ha nacido

Detrás de la cordillera, Aunque no haya luna llena, Siempre se queda en nosotros; Y eso que a mí me desvela, Es como entrar en tus ojos, Es como si fuera el oro De todas las cosas bellas, Como la fuerza de un potro Que se encabrita en la selva

Algo que nos toca el hombro Diciendo el tiempo que queda. Todas las bestias salvajes, Serpientes de lunas viejas, Pasan y toman asiento, Pero eso no me desvela, Sino la luz que despierta, En las mañanas qué venga Otro camino de luz.

Algo que siempre ha nacido Detrás de la cordillera Y que no es como una esfera Más bien parece una hembra Que esta pariendo una estrella. Le duelen todas las puntas Sangra con luz de la tierra; El árbol llena su copa Del canto de aves viajeras, Pajaros de otro planeta, Que nadie ha visto de cerca. La ciudad en su horizonte Sabe su nombre que vuela...

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  • Foto do escritorBia Figueiredo

Minha casa são meus retratos

minha casa é meu martelo

minha casa é meu manuscrito

minha casa é meu colar

de contas verdes de vidro

tiraram-me tudo

e no entanto me sobra muito

minha casa é teu cabelo cinza

meu casaco de feltro

meu amor esfacelando-se

minha casa é meu cansaço, minha miopia

minha artrite, a criança que fui e sigo

sendo, minha casa é a memória da casa

demolida, o cão que eu não tive

a parte que não entendo

no poema que traduzi

minha casa é o mar

aberto

minha casa é aquele mergulho aquele dia

quando o pequeno cardume de peixes listrados

de amarelo atravessou ali bem na nossa frente

minha casa é a árvore

em frente à casa

o muro contra o qual

nos beijamos

minha casa é minha coleção

de cacos

meu hábito de perder

as chaves

a pequena canção

de antes de eu nascer

o modo como cresci

e aquela canção não cresceu

minha casa é meu passaporte

minha casa é minha língua

estrangeira

fronteiras que me

cruzaram

minha casa é meu peso

minha idade

o nome da cidade

em que te conheci

a roupa que então vestias

sim

onde moro

ainda

minha casa é o cão de rua

que não é meu, que apenas acontece de estar ali

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  • Foto do escritorNaiara Parolin Bastos

Lady Lazarus - Sylvia Plath

(Tradução de Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça)


Tentei outra vez. Um ano em cada dez Eu dou um jeito — Um tipo de milagre ambulante, minha pele Brilha feito abajur nazista, Meu pé direito

Peso de papel, Meu rosto inexpressivo, fino Linho judeu.

Dispa o pano Oh, meu inimigo. Eu te aterrorizo? —

O nariz, as covas dos olhos, a dentadura toda? O hálito amargo Desaparece num dia.

Em muito breve a carne Que a caverna carcomeu vai estar Em casa, em mim.

E eu uma mulher sempre sorrindo. Tenho apenas trinta anos. E como o gato, nove vidas para morrer.

Esta é a Número Três. Que besteira Aniquilar-se a cada década.

Um milhão de filamentos. A multidão, comendo amendoim, Se aglomera para ver

Desenfaixarem minhas mãos e pés — O grande striptease. Senhoras e senhores,

Eis minhas mãos Meus joelhos. Posso ser só pele e osso,

No entanto sou a mesma, idêntica mulher. Tinha dez anos na primeira vez. Foi acidente.

Na segunda quis Ir até o fim e nunca mais voltar. Oscilei, fechada

Como uma concha do mar. Tiveram que chamar e chamar E tirar os vermes de mim como pérolas grudentas.

Morrer É uma arte, como tudo o mais. Nisso sou excepcional.

Desse jeito faço parecer infernal. Desse jeito faço parecer real. Vão dizer que tenho vocação.

É muito fácil fazer isso numa cela. É muito fácil fazer isso e ficar nela. É o teatral

Regresso em plena luz do sol Ao mesmo local, ao mesmo rosto, ao mesmo grito Aflito e brutal:

“Milagre!” Que me deixa mal. Há um preço

Para olhar minhas cicatrizes, há um preço Para ouvir meu coração — Ele bate, afinal.

E há um preço, um preço muito alto Para cada palavra ou cada toque Ou mancha de sangue

Ou um pedaço de meu cabelo ou de minhas roupas. E aí, Herr Doktor. E aí, Herr Inimigo.

Sou sua obra-prima, Sou seu tesouro, O bebê de ouro puro

Que se funde num grito. Me viro e carbonizo. Não pense que subestimo sua grande preocupação.

Cinza, cinza — Você fuça e atiça. Carne, osso, não há mais nada ali —

Barra de sabão, Anel de casamento, Obturação de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer Cuidado. Cuidado.

Saída das cinzas Me levanto com meu cabelo ruivo E devoro homens como ar.


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